O tempo é um grande amigo nosso. Não importa qual tenha sido a impressão
que tenhamos quanto a sua passagem, que ele tenha passado rápido, devagar, que
ele tenha sido mal aproveitado ou utilizado intensamente. O tempo sempre corre
a nosso favor, desde que saibamos como transformar aquilo que ele põe à nossa
frente em experiências enriquecedoras.
Nos últimos dias tenho vivido mais uma dessas vivências que têm me
ensinado muito, que é estar de volta ao meu lar depois de viver um
intercâmbio. Sempre é complexo voltar para o ponto de onde se partiu em busca
de um objetivo tão importante da sua vida; existe a sensação de retrocesso,
existem marcas, existem lembranças, existem pessoas, existem aprendizados e
isso vai estar sempre conosco, em nosso íntimo interior. Mas agora, é preciso
aprender o lugar de cada coisa que está dentro de nós e conseguir organizá-las
da melhor maneira possível, para o nosso bem e de quem nos ama.
Tenho ouvido e lido o relato de alguns amigos brasileiros que fiz durante esse
período vivendo fora do país e dois sentimentos parecem ser unânimes: tristeza
e saudade. É natural. Muito se tem falado sobre a chamada “síndrome do regresso”,
um estado psicológico que afeta principalmente estudantes e profissionais que
passaram tempo vivendo em outro país. Segundo especialistas, essa síndrome
acomete essas pessoas por causa das coisas boas e oportunidades únicas que
tiveram ao morar em outro país, quase sempre mais desenvolvido que o país de
origem, e agora têm de lidar com a volta à realidade, nem sempre tão boa quanto
desejariam.
|
À beira do Rio Douro, ao fundo, a cidade do Porto |
Alguns relatos são até preocupantes. É possível ver uns falando que não
conseguem mais sair pelas suas cidades, outros que choram todos os dias e
querem voltar o mais rápido possível para a cidade onde estiveram. Há também
alguns que tecem diversas críticas ao Brasil e tem total desprezo por qualquer
coisa associada ao país.
Essa é uma situação delicada. É realmente difícil voltar para casa
depois de ter ido tão longe, superado tantos medos e limitações, ter vencido
tantas barreiras, ser tão privilegiado de conhecer culturas diferentes. Eu,
particularmente, sempre tive muito claro na minha mente o que eu estava fazendo
ali, tive consciência o tempo todo de o intercâmbio era só uma fase na minha
vida e que eu teria que voltar para minha cidade, por mais triste que isso
fosse. Talvez isso tenha me ajudado a encarar bem a volta para casa.
Outra coisa que também me ajudou muito foi falar com pessoas, contar coisas que aconteceram e que foram importantes para mim, sair um pouco pela minha cidade, que não tem lá tantas coisas para conhecer e aproveitar, mas ainda oferece um ou outro espaço bucólico onde é possível parar, pensar e curtir o momento. Buscar seguir com a vida em frente, olhar para o que de novo pode acontecer nas nossas vidas nesse novo processo.
Um outro fator que esteve a meu favor para lidar de maneira mais tranquila com a
volta para casa são as férias forçadas que tenho tirado durante o mês de Setembro. Só
volto a ter aulas na minha faculdade em Outubro e esse tempo tem servido para
que eu possa estar tranquilo, refletindo sobre o que aconteceu comigo, sobre o
que aprendi e o que poso fazer com tudo o que trouxe do intercâmbio.
Eu não quero e nem poderia, aqui, dar alguma solução para um problema
que parece supérfluo e fútil, mas é real e afeta muitas pessoas. Comigo mesmo,
eu tento sempre olhar para frente e pensar no futuro. Tenho só 22 anos e se Deus permitir, muitas
coisas ainda acontecerão na minha vida. Estudar no Porto, em Portugal, foi a
primeira delas, uma porta que se abriu e pela qual eu adentrei para ter acesso
a uma gama de possibilidades que ainda podem se concretizar.